Promotor
Associação Meridional de Cultura
Breve Introdução
Como Joseph Goebble, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, dizia uma mentira repetida mil vezes, torna-se verdade.
Neste momento do mundo em que os processos de comunicação aparentemente tornam mais próximas as relações humanas, deparamo-nos com o efeito precisamente contrário em que o fechamento do individuo sobre si próprio é uma evidência inequívoca. E, como consequência desse afastamento do outro, a acção política manipulatória ressurge em todo o seu esplendor, através de processos onde o medo e a ignorância que estão sempre directamente ligados são socialmente usados sem nenhum tipo de pudor.
Também o Professor desta peça, manipulador e manipulado, repete exaustivamente pequenas e infundadas teorias, convocando processos de assimilação, de aprendizagem pela repetição, ausentes de qualquer tipo de regra ou lógica, destruturando o pensamento da aluna e ele próprio ausente de qualquer tipo de estrutura. A aluna já formatada pelo mundo de onde vem, dispensa também ela o processo de raciocínio, sendo capaz de chegar a resultados matemáticos intangíveis pelo uso exclusivo da memorização.
Escrito no período do pós-guerra, numa Europa ferida e destruída pelo nazismo em que a verdade e a mentira continuavam nebulosas, este texto remete-nos para o poder da linguagem como arma poderosa capaz de galvanizar e promover respostas colectivas e acéfalas das multidões.
Hoje, os discursos na forma de múltiplas linguagens que vêm da Europa são outros, mas a verdade e a mentira continua a ser projectada sobre os cidadãos, cabendo-nos pouco mais que a assimilação e o cumprimento das regras, enquanto também nós, tal como a aluna do texto de Ionesco, vamos soçobrando sob lógicas que nos ultrapassam e processos que desconhecemos. O absurdo, parece continuar, dolorosamente actual.
Sinopse
Um professor, especializado em todas as áreas do conhecimento, recebe na sua própria casa alunas que pretendem apresentar-se às provas de doutoramento.
Uma nova aluna vem apresentar-se para fazer a sua formação específica e todo o diálogo ocorre num universo pleno de absurdo, de uma perversidade subliminar que se vai tornando cada vez mais evidente, tudo evoluindo através da manipulação da linguagem. E subjacente à linguagem, emerge todo o universo das relações humanas, desde o questionamento sobre o conhecimento, ao sexo e dominação ideológica.
A LIÇÃO é um texto que começa por aparentar ser uma sátira sobre os processos do ensino e a aquisição das aprendizagens. No entanto, à medida que a acção se vai desenrolando, o tom de farsa vai adensando em tragédia, contendo também a própria tragédia, uma dimensão, só na aparência, paródica.
Ficha Artística
Texto Eugène Ionesco Tradução Ernesto Sampaio Versão Final Miguel Seabra e Natália Luiza Encenação Miguel Seabra Interpretação Elsa Galvão, Miguel Seabra e Sara Barros Leitão Espaço Cénico e Figurinos Marta Carreiras Música Original e Espaço Sonoro Rui Rebelo Desenho de Luz Nuno Meira Fotografia João Tuna Assistência de Encenação Vítor Alves da Silva Assistência de Cenografia e Direcção de Cena Marco Fonseca Montagem Marco Fonseca e Paulo Gomes Operação Técnica Paulo Gomes Produção Executiva Rita Conduto Assistência de Produção Susana Monteiro Assessoria Jurídica Diogo Salema Assessoria de Gestão Mónica Almeida Produção Teatro Meridional 2016 Direcção Artística do Teatro Meridional Miguel Seabra e Natália Luiza